Bhopal, Chernobyl e Mariana

Por Larissa Rosevics
O desastre ambiental que aconteceu em Mariana, Minas Gerais, causado pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro da mineradora Samarco, e que decretou a morte milhares de vidas marinhas do Rio Doce, demonstra a relevância e a necessidade da reflexão sobre as relações entre meio ambiente e desenvolvimento econômico. Na década de 1970, quando os debates ecológicos, promovidos pelos meios científicos, chegaram à arena internacional, a questão central estava nos efeitos nocivos do desenvolvimento econômico sobre o meio ambiente. Após quarenta anos, o debate vai além, incluindo a deterioração ambiental como empecilho ao desenvolvimento econômico, podendo, inclusive, reverter as conquistas já alcançadas, gerando ainda mais fome e pobreza no mundo (Villa, 2005).
O mais impactante é que esta não é a primeira vez que a negligência, imprudência e imperícia de grandes corporações levaram a morte de milhares de vidas (humanas e não humanas). Mariana, hoje, faz parte de uma triste lista de cidades em que a natureza pode sentir o lado mais cruel do mundo contemporâneo.
Chernobyl, Bhopal e Mariana são exemplos de que os desastres ambientais não escolhem país, região, regime político, ou natureza ideológica, para acontecer. Os prejuízos causados pelos desastres são ambientais, econômicos e sociais, muitas vezes imensuráveis e irreversíveis.Tão grave quanto os próprios desastres é o despreparo dos governos em como agir.

Bhopal é uma cidade que fica estrategicamente localizada no centro da Índia, com aproximadamente 1.7 milhão de habitantes e era sede de uma das filiais da empresa estadunidense Union Carbine, especializada na produção de pesticidas para agricultura. No dia 3 de dezembro de 1984, houve um vazamento de aproximadamente 40 toneladas de gases tóxicos da fábrica da Union Carbine em Bhopal. Três dias após o vazamento, considerado até hoje o maior desastre químico da história, 8 mil pessoas já haviam entrado em óbito e mais de 500 mil foram expostas aos gases, com consequências até hoje sentidas pela população da região. A empresa negou-se a fornecer as autoridades qual a natureza dos contaminantes. A indústria, abandonada depois do desastre, segue contaminando o solo e as águas subterrâneas da região. A Union Carbinefoi comprada pela empresa Dow Chemicals, em 2001.
O desastre de Chernobyl é o maior acidente nuclear até hoje ocorrido em uma usina nuclear. Localizada em Pripyat, próxima a cidade ucraniana de Chernobyl, a Usina Nuclear foi construída na década de 1970, quando a região era parte da União Soviética. A época, a usina era responsável por 10% de toda energia consumida pela Ucrânia. No dia 26 de abril de 1986, um dos reatores da usina explodiu, causando incêndio e expondo material nuclear. A radiação, que pode ser sentida em diferentes regiões da Europa, levou milhares de trabalhadores e moradores da região à morte e tornou a cidade de Pripyat uma cidade fantasma, inabitável devido aos altos índices de radiação.
A lama e os produtos químicos que percorrem o Rio Doce e, até o momento, já atingiram a costa do estado do Espirito Santo (cerca de 500 km), carregam mortes e destruições. Em todo o trajeto percorrido, a água torna-se impropria para consumo humano e inóspita para qualquer tipo de vida. A expectativa, no caso de Mariana é de que os responsáveis sejam punidos e que esforços sejam empreendidos para que todo o bioma do rio seja recuperado. Que Mariana não seja abandonada como Bhopal,  e que o rio possa voltar a ter vida, diferente do que aconteceu em Chernobyl.
Referências

VILLA, Rafael Duarte. Agenda ecológica global e os regimes internacionais de meio ambiente: um estudo de caso difícil. In: SOUZA, Matilde (org.) A agenda social das relações internacionais. Belo Horizonte: PucMinas, 2005. pp.156-197.

GREENPEACE. Bhopal, Índia. O pior desastre químico da história: 1984-2002. Disponível em: http://www.greenpeace.org.br/bhopal/docs/Bhopal_desastre_continua.pdf

Diálogos Internacionais

Divulgação científica de Relações Internacionais, Defesa e Economia Política Internacional ISSN 2596 2353