A construção de mais uma versão do Oriente pelo Ocidente

Por Larissa Rosevics

Enquanto a China expande seu poder e nos lembra o porquê dela ser um player fundamental do tabuleiro geopolítico mundial, a indústria cultural do ocidente se entrega à tarefa de criar as suas próprias versões dos costumes e da cultura dos povos asiáticos, guardando mais semelhanças com seus próprios códigos culturais do que com a realidade dos povos que se propõe a retratar.

“Marco Polo”, a recente produção do Netflix lançada neste mês de dezembro é mais um exemplo deste tipo de produto da indústria cultural ocidental. A primeira temporada da série ambiciosa, que custou 90 milhões de dólares ao Netflix, procura contar, em 10 episódios, o início da jornada do jovem veneziano Marco Polo, que junto com seu pai e tio, desbravaram a Rota da Seda no século XIII.

As narrativas do veneziano e a época em que ele viveu servem de inspiração, e nada mais, para uma trama repleta de conchavos, violência, sexo e traições. Alguns críticos a comparam a Game of Thrones, meio pretensioso talvez. Do ritmo da narrativa ao idioma falado pelos personagens, tudo parece muito ocidental. É claro que para o consumo de massa, uma lógica hollywoodiana e o inglês são muito mais palitáveis e comercializável nas bandas de cá do que o mandarim ou os saltos suspensos no ar dos filmes de Xangai.

Portanto, internacionalista de plantão, não esperem aprender muito sobre a história da Ásia, da cultura dos mongóis ou dos costumes chineses em “Marco Polo”. Ainda que a série tenha sido realizada com boas tintas e um colorido artístico de qualidade, restam poucas semelhanças com a realidade dos fatos além dos nomes dos personagens e alguns eventos históricos.

Guardadas as devidas ressalvas, destaco três elementos que movem a trama, e segundo alguns analistas, o mundo: o poder, a expansão territorial e as finanças. Do lado chinês, a ameaça mongol é o que mantém o chanceler Jia Sidao no poder, mesmo contra a vontade da rainha. Do lado mongol, a lógica expansionista de Kublai Khan está ao centro da narrativa. E as finanças, os impostos e as moedas, são a chave que desencadeia os principais eventos, inclusive os da próxima temporada.

Sem mais spoilers, recomendo aos aficionados por séries que assistam “Marco Polo”, que a despeito das falhas históricas traz um bom exemplo de como as relações entre poder e riqueza funcionam.

Neste último post do ano, agradeço as visitas constantes e a leitura atenta de todos.

Nos vemos em 2015.

Marco Polo (Dez. 2014)
Onde encontrar: Netflix
Temporadas: 1
Episódios: 10
Criador: John Fusco
Elenco: Lorenzo Richelmy; Benedict Wong; Joan Chen; Rick Yune; Amr Waked; Remy Hii; Zhu Zhu; Tom Wu; Mahesh Jadu; Olivia Cheng; Uli Latukefu; Chin Han; Pierfrancesco Favino.

Diálogos Internacionais

Divulgação científica de Relações Internacionais, Defesa e Economia Política Internacional ISSN 2596 2353