Futebol, política e relações diplomáticas
Quando o futebol extrapola o campo, ou a diplomacia entra nele
Por Julia Monteath de França
O presidente da Fifa, Joseph Blatter [1], esteve recentemente em uma conferência em Jerusalém, em “missão de paz”, em suas próprias palavras. Encontrou com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu e, na mesma “missão”, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, e Jibril Rajoub, político palestino e dirigente da Associação Palestina de Futebol (PFA) e do Comitê Olímpico Palestino (POC). O objetivo da visita era convencer a PFA a desistir da solicitação de suspensão da participação israelense na instituição internacional (outros possíveis pontos da pauta nas reuniões não foram revelados).
A PFA alega que Israel tem agido para dificultar suas atividades, inclusive restringindo a livre-circulação de jogadores entre a Faixa de Gaza e o território oriental ocupado por Israel, que impõe tais restrições à circulação de pessoas justificado por suas preocupações com a segurança dos territórios que ocupou. Afirma também que Israel dificulta a importação de equipamentos desportivos para territórios palestinos, as visitas de times e jogadores e membros de equipes técnicas estrangeiros, além de incorporar times de acampamentos palestinos em territórios ocupados por Israel aos campeonatos e ligas israelenses.
Blatter, à frente da Federação Internacional, visitou o Oriente Médio para tentar amenizar as relações entre Palestina e Israel, pelo menos dentro das quatro linhas do gramado, e propondo uma partida “da paz” entre times de cada um dos lados, mas até essa tentativa de reconciliação foi frustrada, quando a Palestina manteve sua demanda de suspensão de Israel no próximo congresso da FIFA – que Blatter descreve como uma situação não usual e bastante séria.
Enquanto Israel é membro da União das Federações Europeias de Futebol (UEFA), a Palestina faz parte da Confederação Asiática de Futebol (AFC). Rajoub permanece firme com sua proposta de levar à votação a suspensão de Israel. Caso a suspensão de Israel fosse de fato a alternativa vencedora, todos os seus times seriam suspensos das competições internacionais, como a Liga dos Campeões e as Eliminatórias da Eurocopa.
Não é só na ONU que a questão Palestina-Israel se coloca como uma pedra no sapato das relações internacionais. Há mais de dois anos a FIFA vem tentando mediar esse conflito que, assim como fora de suas competências, parece não ter solução óbvia e muito menos no curto prazo, ou num horizonte (pre)visível.
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[1] Sim, o mesmo que, em 2014, passou por uns apertos após publicação de relatório sobre suposta corrupção na escolha das sedes das Copas do Mundo de Futebol de 2018 e 2022, respectivamente Rússia e Catar, foi reeleito recentemente apesar de ainda hoje responder pelas confusões que vem aparecendo nos jornais envolvendo a Federação.