O cenário dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil

Volume 4 | Número 43 | Dez. 2017

Por Letícia Loureiro
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Na América Latina, o Brasil é o país que mais recebe investimentos estrangeiros diretos, seguido por México, Chile, Colômbia e Peru. Dentro desse ranking, os únicos países latino-americanos que aparecem entre as vinte maiores economias receptores de investimentos estrangeiros diretos são Brasil e México, de acordo com o relatório global de investimentos da Conferencia das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD)¹.

O investimento estrangeiro direto (IED) é um investimento duradouro realizado por uma empresa em outra economia. Algumas das opções para uma empresa entrar no país que deseja investir são: construir uma nova planta industrial, comprar ou se fundir com uma empresa já operante no país ou realizar uma parceria com alguma empresa local. Dessa forma, o diferencial do IED está em não ser um investimento de curto prazo e volátil, como é o caso do capital especulativo, que pode “fugir” do país quando desejar. No Brasil, há diversas oportunidades para investimentos em setores como energia, indústria automotiva, infraestrutura, biotecnologia, entre outros.

São vários os motivos pelos quais um mercado desperta interesse de investidores estrangeiros: o acesso a recursos naturais, a demanda por novos mercados, o acesso a técnicas de produção mais eficazes, o interesse por taxas de lucros maiores, e outros. No caso do Brasil, os aspectos que se destacam são o posicionamento estratégico do país na América Latina, a abundância de recursos naturais e seu grande mercado consumidor.

O status de país receptor de investimentos estrangeiros acompanha o Brasil desde meados da década de 1990. Neste mesmo contexto, o Brasil assinou 14 tratados bilaterais de investimento (BITs), chamados de Acordos de Promoção e Proteção Recíproca de Investimento (APPRIs), porém nenhum fora ratificado devido, dentre outros fatores, às más experiências de outros países da América Latina, principalmente da Argentina, portanto, os riscos da ratificação dos tratados eram maiores do que os possíveis benefícios. Apesar disso, o Brasil continuou a atrair investimentos e, em 2015, passou a assinar e ratificar novos modelos de acordos internacionais, como os Acordos de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFIs). Até o presente momento, o país já assinou ACFIs com Angola, Chile, Colômbia, Maláui, México, Moçambique e Peru².

Apesar do considerável pessimismo interno em relação à economia do país, o Brasil continua sendo uma das economias mais atrativas para investidores e empresas estrangeiras. Segundo o relatório da UNCTAD, dentro do ranking dos maiores destinos de investimento para 2017-2019, o Brasil ocupa o 6º lugar entre as quinze economias citadas, ficando atrás dos Estados Unidos, China, Índia, Indonésia e Tailândia – todos países em desenvolvimento, com exceção dos EUA. Além disso, em 2016 o país subiu de 8º lugar para 7º no ranking das maiores economias receptoras de recursos do exterior, mantendo o status de principal receptor de investimentos estrangeiros diretos da América Latina.

No entanto, ainda que o país ocupe a favorável 6ª posição no ranking dos principais destinos de investimento para os próximos dois anos, o fluxo de investimentos estrangeiros diretos direcionados ao Brasil diminuiu em 2016, havendo uma queda de US$ 64 bilhões para US$ 59 bilhões, de acordo com o relatório. Comparado ao volume de recursos investidos em 2011, o fluxo foi 39% menor.

O cenário de crise no fluxo dos investimentos estrangeiros diretos encontra-se em todo o globo, tendo o volume de IED do mundo recuado 13% em 2016. Na América Central, houve um declínio de 20% dos fluxos no México. Na América do Sul, o volume também caiu em 23% no Brasil e em 31% no Chile. Na Europa, a queda foi de 29%. No entanto, apesar da crise mundial dos IEDs, os países em desenvolvimento, como o Brasil, são os que mais sofrem com tal fato. Isso se dá, dentre outros motivos, pela recessão econômica da região, pela redução do consumo nos países ricos, pelo contexto global de sofisticação tecnológica e pelos fracos preços de commodities para as principais exportações (UNCTAD, 2017).

Em meio a esta conjuntura, a expectativa é de uma moderada recuperação neste ano, provocada em grande parte pelo aumento de investimento entre os países mais ricos. Entretanto, a retomada esperada ainda não será capaz de reparar as perdas do último ano. De acordo com o secretário-geral da UNCTAD, Mukhisa Kituyi, “nós prevemos que o IED irá se recuperar em 2017, para então atingir US$ 1,8 trilhões em 2018, porém permanecerá mais baixo que o pico anterior à crise (de 2008)”.

Segundo alguns economistas, os investidores de longo prazo se mantêm interessados no Brasil por causa da posição de destaque entre as maiores economias emergentes do globo, portanto, o país não pode ser deixado de lado. Economista da Merrill Lynch, David Beker afirma que “embora a economia brasileira não esteja indo bem, é uma economia tão grande que as empresas não podem se dar ao luxo de ficar fora dela”.

Ao analisar tais elementos, percebe-se que há um grande otimismo em relação ao futuro de longo prazo do Brasil. Apesar da má conjuntura do país, que conta com uma economia em crise, instabilidade política e reformas econômicas, os investidores continuam se mostrando interessados porque o Brasil ainda oferece diversas vantagens, como um bom rendimento devido aos juros locais.


Referências:

‘Financial Times’: Investimento estrangeiro no Brasil bate recorde. Disponível em: <www.jb.com.br/economia/noticias/2017/02/08/financial-times-investimento-estrangeiro-no-brasil-bate-recorde/>. Acesso em: 16 de ago. de 2017.

Como investimentos estrangeiros diretos podem ajudar o Brasil a sair da crise. Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/brasil-37581852>. Acesso em: 16 de ago. de 2017.

Investidor estrangeiro resiste à crise e aposta no Brasil. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/07/1899794-investidor-estrangeiro-resiste-a-crise-e-aposta-no-brasil.shtml>. Acesso em: 15 de ago. de 2017.

Investidores estrangeiros apostam no Brasil. Disponível em: <brasildebate.com.br/investidores-estrangeiros-apostam-no-brasil>. Acesso em: 15 de ago. de 2017.

Investimento estrangeiro direto caiu 23% no Brasil em 2016, estima UNCTAD. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/investimento-estrangeiro-direto-caiu-23-no-brasil-em-2016-estima-unctad/>. Acesso em: 15 de ago. de 2017.

NEXO JORNAL. Qual o quadro do investimento estrangeiro direto no Brasil. 2017. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/06/09/Qual-o-quadro-do-investimento-estrangeiro-direto-no-Brasil>. Acesso em: 13 de ago. de 2017.

O que é IED? Disponível em: <www.apexbrasil.com.br/o-que-e-ied>. Acesso em: 15 de ago. De 2017.

UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT. World Investment Report 2017: Investment and Digital Economy. Geneva: United Nations, 2017. Disponível em: <http://unctad.org/en/PublicationsLibrary/wir2017_en.pdf>. Acesso em: 13 de ago. 2017.

[1] http://unctad.org/en/PublicationsLibrary/wir2017_en.pdf

[2] http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/diplomacia-economica-comercial-e-financeira/15554-acordo-de-cooperacao-e-facilitacao-de-investimentos

Leticia Loureiro é graduanda em Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Diálogos Internacionais

Divulgação científica de Relações Internacionais, Defesa e Economia Política Internacional ISSN 2596 2353