Uma IPA, por favor! [1]
Volume 1 | Número 3 | Ago. 2022
Por Suellen Lannes
Homer Simpson
Pode-se dizer que existe quatro grandes escolas de cerveja: belga, alemã, inglesa e estadunidense. Cada uma apresenta suas peculiaridades, as quais tem uma certa relação com sua história e cultura específica. No escrito em questão vamos nos ater à escola estadunidense.
Na década de 1960 haviam cerca de 70 cervejarias no território dos Estados Unidos. Esse cenário contrasta com as 2.700 cervejarias que existiam em 1876. Dessas 70 cervejas cerca de 40 eram muito parecidas e era difícil distinguir alguma diferença entre elas, ou seja, a maior parte delas produzia uma cerveja, digamos, massificada.
Na década de 1970 o cenário começa a mudar, pessoas que haviam tido contato com a comidas europeias trouxeram novidades para o território estadunidense. Novos restaurantes surgem com novas temáticas, principalmente na Califórnia. Essa influência também adentra no âmbito das bebidas, como o vinho e a cerveja. O resultado foi a criação da primeira microcervejaria pós-Lei Seca, a New Albion, em 1976 [OLIVER, 2012, P. 417-418].
Apesar dessa cervejaria ter durado pouco tempo, o estrago já estava feito e a vida cultural e gastronômica dos Estados Unidos não voltariam a ser o que eram. Antigas cervejarias que haviam sobrevivido foram sendo resgatadas e acompanhando a nova tendência de se tentar algo novo, procurando nas tradições europeias algo que pudesse ajudá-las a se reerguer. Começaram a surgir restaurantes que faziam a sua própria cerveja, conhecidos como brew pubs. Seguindo o pensamento do professor Fiori, podemos dizer que foi um grande big bang nas cervejarias [2], uma explosão inicial que gerou todo o cenário cervejeiro atual.
Com farta matéria-prima (os Estados Unidos é um dos principais produtores de lúpulo, a matéria-prima mais cara e nobre da cerveja) e a típica ganância empreendedora dos estadunidenses, o movimento de cervejarias artesanais se alastrou e se diversificou.
Usando uma engenhosa mescla de know-how publicitário e marketing de guerrilha, Jim Koch e sua Samuel Adams Boston Lager levaram o sabor da verdadeira cerveja a milhões de americanos que nunca sequer tinham percebido o que estavam bebendo [OLIVER, 2012, p. 419]
As cervejas artesanais americanas […] são inspiradas nos estilos de cerveja europeus, mas tendem a ser mais ousadas, ostentosas e extravagantes, como os americanos. A palavra de ordem a cerveja artesanal americana é mais. Mais lúpulo, mais malte, mias sabores caramelizados, mais sabores torrados, mais aroma e, às vezes, mais álcool. Algumas delas viraram novos estilos, gerando seus próprios imitadores [OLIVER, 2012, p 420]
[1] A IPA (India Pale Ale) é um tipo de cerveja criada pelos britânicos no século XVIII. Os britânicos enviavam cervejas para as seus soldados nos domínios ultramarinos, principalmente a Índia. Em decorrência do tempo de viagem, a cerveja acabava estragando. Um cervejeiro resolveu esse problema aumentando o teor de lúpulo e de álcool, inventando um novo estilo de cerveja, a Ipa. Esse novo estilo vai influenciar fortemente a nova escola norte-americana.