O legado de “Poder e dinheiro”
Volume 4 | Número 40 | Set. 2017
Por Bernardo Salgado Rodrigues
No último dia 14 de setembro de 2017, por iniciativa da Pós-Graduação em Economia Política Internacional/PEPI-UFRJ, foi celebrada a comemoração dos 20 anos de lançamento do livro “Poder e dinheiro”, em 1997, com a participação de organizadores e autores, como José Luís Fiori, Carlos Aguiar de Medeiros, Franklin Serrano, Luiz Eduardo Melin e Ernani Teixeira[1].
O debate sobre a conformação do livro surge da releitura de um clássico texto de Maria da Conceição Tavares, escrito em 1985, intitulado “A retomada da hegemonia norte-americana”. Nele, Tavares criticava o consenso intelectual à época referente à crise da hegemonia norte-americana, uma vez que a desregulação e financeirização econômica eram parte de um projeto estratégico de restauração do poder americano. Tais críticas, alinhadas ao esgotamento do desenvolvimentismo brasileiro, conformam a combinação das discussões que serão o ponto de partida do Grupo em seu marco inicial no final da década de 1980. Entre 1994-1997, os desafios políticos e intelectuais se modificam: a euforia com a globalização, o “fim da historia”, a vitória neoliberal (sintetizado no Consenso de Washington) realizam uma mudança qualitativa na trajetória do Grupo: de somente pesquisadores para militantes combatentes, uma luta militante intelectual compactuada com uma atividade acadêmica editorial, cujo esforço faz surgir “Poder e dinheiro”.
O livro é composto por um conjunto de ensaios cuja diversidade intelectual convergia para questões fundamentais, que se propunham a debater criticamente a economia política da globalização, numa relação indissociável que possuía uma lógica e uma dinâmica peculiar. Fundamentalmente, os autores realizaram seus estudos partilhando uma visão crítica tanto da globalização como das políticas neoliberais da década de 1980-90 e se basearam em três consensos: “poder e dinheiro”, cuja “dinâmica capitalista fica completamente incompreensível se não levarmos em conta o movimento simultâneo de suas determinações econômicas e políticas” (TAVARES; FIORI, 2017, p.9); “dinheiro e riqueza”, em que a inovação da “nova etapa da internacionalização capitalista se concentra no campo financeiro, no qual se desfizeram as fronteiras entre as moedas e os capitais, permitindo uma verdadeira universalização do capital financeiro” (TAVARES; FIORI, 2017, p.10); e “espaços e hierarquias”, onde a “reorganização econômica e política do capitalismo está passando por um processo de re-hierarquização de poderes políticos e econômicos regionalizados e assimétricos” (TAVARES; FIORI, 2017, p.11)
Um dos questionamentos principais do livro seria como um poder rival (Japão na década de 1980, e, por inferência, China na atualidade) poderia contrastar o poder americano. Desde o padrão dólar-flexível até a atualidade, os Estados Unidos tem a dominância monetária do sistema internacional nunca antes vista na história. Eles têm a capacidade de possuir déficit em conta corrente e variar a taxa de câmbio nominal sem nenhuma restrição externa. É a máxima do ex-secretário do Tesouro americano no governo Nixon, John Connally: “The dollar is our currency but your problem.”
No sistema internacional, o dinheiro tem dono, e seu dono busca defender os interesses políticos, econômicos e financeiros de sua matriz. Ou seja, mesmo com as crises de 2001 e 2008 nos Estados Unidos, e de 2008-2012 na União Europeia, ratifica-se a falácia do colapso do dólar, cuja participação vem crescendo nos anos recentes (em termos de circulação e lastreamento do sistema, tanto pelo valor como pelo volume) em comparação com o euro, libra e outras moedas, chegando a 80% das transações inter-regionais (excluindo fluxos domésticos e intra-regionais). O dólar é a moeda de referência nos fluxos internacionais e, portanto, não há uma fuga do dólar, mas uma fuga para o dólar.
Este livro se tornou um clássico uma vez que sobreviveu às mudanças conjunturais e estruturais vivenciadas pelo sistema internacional (ainda que o ano de 2008 consista numa mudança brutal na estrutura do sistema, cujas previsões da dimensão dessa crise e das mudanças posteriores ainda são imperceptíveis na longa duração). É a recuperação de um livro que se mostrou correto em suas reflexões vinte anos atrás, e que possui, ainda assim, um respaldo na atualidade, com inúmeros paralelos entre 1997 e 2017, tais como a crítica ao pensamento neoliberal, a condenação da crise da hegemonia norte-americana, a prevalência do dólar, a continuidade da globalização financeira, o poder global estruturado na hierarquia política e econômica, no poder e no dinheiro.
Entretanto, no retorno da geopolítica das nações, a guerra volta ao centro do jogo na arena internacional, cuja sistematização teórica de parte do Grupo atualmente busca pensar o desafio contemporâneo de multiplicação das guerras e as suas prerrogativas éticas e filosóficas. Como brilhantemente descreveu Fiori no encerramento do evento, há o retorno do sistema westfaliano, um sistema internacional que gira em torno de uma regra e no qual todos os países estão inseridos: cada um por si, e na divergência, a guerra.
Referência
O debate sobre a conformação do livro surge da releitura de um clássico texto de Maria da Conceição Tavares, escrito em 1985, intitulado “A retomada da hegemonia norte-americana”. Nele, Tavares criticava o consenso intelectual à época referente à crise da hegemonia norte-americana, uma vez que a desregulação e financeirização econômica eram parte de um projeto estratégico de restauração do poder americano. Tais críticas, alinhadas ao esgotamento do desenvolvimentismo brasileiro, conformam a combinação das discussões que serão o ponto de partida do Grupo em seu marco inicial no final da década de 1980. Entre 1994-1997, os desafios políticos e intelectuais se modificam: a euforia com a globalização, o “fim da historia”, a vitória neoliberal (sintetizado no Consenso de Washington) realizam uma mudança qualitativa na trajetória do Grupo: de somente pesquisadores para militantes combatentes, uma luta militante intelectual compactuada com uma atividade acadêmica editorial, cujo esforço faz surgir “Poder e dinheiro”.
O livro é composto por um conjunto de ensaios cuja diversidade intelectual convergia para questões fundamentais, que se propunham a debater criticamente a economia política da globalização, numa relação indissociável que possuía uma lógica e uma dinâmica peculiar. Fundamentalmente, os autores realizaram seus estudos partilhando uma visão crítica tanto da globalização como das políticas neoliberais da década de 1980-90 e se basearam em três consensos: “poder e dinheiro”, cuja “dinâmica capitalista fica completamente incompreensível se não levarmos em conta o movimento simultâneo de suas determinações econômicas e políticas” (TAVARES; FIORI, 2017, p.9); “dinheiro e riqueza”, em que a inovação da “nova etapa da internacionalização capitalista se concentra no campo financeiro, no qual se desfizeram as fronteiras entre as moedas e os capitais, permitindo uma verdadeira universalização do capital financeiro” (TAVARES; FIORI, 2017, p.10); e “espaços e hierarquias”, onde a “reorganização econômica e política do capitalismo está passando por um processo de re-hierarquização de poderes políticos e econômicos regionalizados e assimétricos” (TAVARES; FIORI, 2017, p.11)
Um dos questionamentos principais do livro seria como um poder rival (Japão na década de 1980, e, por inferência, China na atualidade) poderia contrastar o poder americano. Desde o padrão dólar-flexível até a atualidade, os Estados Unidos tem a dominância monetária do sistema internacional nunca antes vista na história. Eles têm a capacidade de possuir déficit em conta corrente e variar a taxa de câmbio nominal sem nenhuma restrição externa. É a máxima do ex-secretário do Tesouro americano no governo Nixon, John Connally: “The dollar is our currency but your problem.”
No sistema internacional, o dinheiro tem dono, e seu dono busca defender os interesses políticos, econômicos e financeiros de sua matriz. Ou seja, mesmo com as crises de 2001 e 2008 nos Estados Unidos, e de 2008-2012 na União Europeia, ratifica-se a falácia do colapso do dólar, cuja participação vem crescendo nos anos recentes (em termos de circulação e lastreamento do sistema, tanto pelo valor como pelo volume) em comparação com o euro, libra e outras moedas, chegando a 80% das transações inter-regionais (excluindo fluxos domésticos e intra-regionais). O dólar é a moeda de referência nos fluxos internacionais e, portanto, não há uma fuga do dólar, mas uma fuga para o dólar.
Este livro se tornou um clássico uma vez que sobreviveu às mudanças conjunturais e estruturais vivenciadas pelo sistema internacional (ainda que o ano de 2008 consista numa mudança brutal na estrutura do sistema, cujas previsões da dimensão dessa crise e das mudanças posteriores ainda são imperceptíveis na longa duração). É a recuperação de um livro que se mostrou correto em suas reflexões vinte anos atrás, e que possui, ainda assim, um respaldo na atualidade, com inúmeros paralelos entre 1997 e 2017, tais como a crítica ao pensamento neoliberal, a condenação da crise da hegemonia norte-americana, a prevalência do dólar, a continuidade da globalização financeira, o poder global estruturado na hierarquia política e econômica, no poder e no dinheiro.
Entretanto, no retorno da geopolítica das nações, a guerra volta ao centro do jogo na arena internacional, cuja sistematização teórica de parte do Grupo atualmente busca pensar o desafio contemporâneo de multiplicação das guerras e as suas prerrogativas éticas e filosóficas. Como brilhantemente descreveu Fiori no encerramento do evento, há o retorno do sistema westfaliano, um sistema internacional que gira em torno de uma regra e no qual todos os países estão inseridos: cada um por si, e na divergência, a guerra.
Referência
TAVARES, Maria da Conceição; FIORI, José Luís (Org.). Poder e dinheiro: uma economia política da globalização. 7. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2017.
[1] Este texto é fruto do evento em comemoração aos 20 anos da publicação do livro “Poder e dinheiro: uma economia política da globalização”, realizado pela Pós-Graduação em Economia Política Internacional/PEPI, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 14 de setembro de 2017. O livro foi laureado com o Prêmio Jabuti de 1998, na categoria Economia, administração, negócios e direito.
E o fundamentalismo do petismo? Ninguém fala ou analisa. Adoram destruir reputações como Marina, Ciro Gomes etc.
Todo Petista e seus puxadinhos (Renan, amante do Petismo©, o amazonense chefão lá, analfabeto, o Voz-Fina puxa saco da religião cujo nome é Petismo©, PCdoB© etc.), inclusive os puxadinhos secretos que a mídia não revelam!, ruminam direto, e sem exceção, uma vez que são GADOS do aPedeuTa lula© — o picareta — e da medíocre dilma®. Eles em vez construírem hospitais durante a “Copa das Copas®” do PT®, construíram foi prédios inúteis. O Petismo© é puro vigarismo. E truculência.