Alemanha e o 6X1 no G7

Por Marcello Padilha
Site G7 Summit
No último dia 27 de maio, os líderes dos países mais industrializados, França, Alemanha, Itália, Canadá, Japão, Reino Unido e EUA se reuniram na cidade italiana de Taormina, em mais uma reunião anual do G7. As notícias não foram muito positivas por conta de alguns assuntos mal resolvidos entre os líderes, como o Acordo Climático de Paris que deixou exposto uma relação estremecida entre Alemanha e os Estado Unidos.
O terrorismo global foi assunto, logo após o recente atentado em Manchester, que matou 22 pessoas, entre elas crianças, na saída de um Show de música pop. Os líderes buscaram maior cooperação para mitigar esses eventos, entretanto quando a temática se voltava para o combate do ISIS os chefes de estado e governo afirmaram que qualquer resolução do conflito necessitaria estabelecer uma cooperação com a Rússia, a qual os membros do G7 se mostraram dispostos a encontrar uma solução política, mas sem muitos detalhes – talvez seja o caso de esperar o encontro programado de Vladimir Putin à França. A migração como efeito direto da contenda no território sírio foi abordada.
A guerra que se iniciou em 2011 ainda perdura e um dos reflexos dela é o fluxo colossal e contínuo da migração para o território europeu, fato que ainda permanece com uma sombra no que tange às resoluções humanitárias para o tema. Segundo a vontade de Trump, o tratamento aos refugiados ainda ficará a cargo de cada nação, cabendo decisões sobre a quantidade e o período em poderão ser acolhidos, além de deixar aberta a possibilidade dos países fecharem suas fronteiras – claramente uma antítese infeliz. Tal decisão, por sua vez, não agradou muito aos italianos, os anfitriões do evento, pois são os grandes receptores de imigrantes da rota do Mediterrâneo.
Vale ressaltar que a Itália possuía , em 2013, um programa intitulado de Mare Nostrum, que visava ao resgate de refugiados no mediterrâneo, mas que foi suspenso por cortes orçamentais, o que transferiu a responsabilidade para um projeto europeu, o TRITON. Este, entretanto, conta com 1/3 do orçamento do projeto italiano e é fortemente criticado pela Anistia Internacional. Isso se dá pelo foco que o projeto possue, o primeiro era claramente mais humanitário, tendo em vista a sua concepção que foi espontânea, após a tragédia de Lampedusa, e o segundo claramente deflagra o objetivo de vigilância da fronteira como pilar. Frustra assim qualquer expectativa da sociedade internacional acerca dos melhores tratos aos refugiados.
Com isso, o resultado da reunião foi insatisfatório, segundo a própria Angela Merkel, que considerou que o evento terminou em “6×1”, sobre outra temática. A dura crítica foi para a posição estadunidense nos processos de negociação, principalmente no que tange ao acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, pois todos os países já haviam concordado sobre a questão climática, menos os EUA que se mostram contrários à assinatura do acordo.
Trump, por sua vez, avisou que em até uma semana possuiria um posicionamento final acerca do tratado de Paris. Contudo, o que devemos esperar do presidente estadunidense que escolhe Scott Pruit para assumir a Agência Nacional de Proteção Ambiental, mesmo antes de sua posse como presidente? Pruit baseou sua carreira no embargo a medidas ambientais a favor de empresas poluentes, tendo como histórico uma série de ações e processos contra a própria agência que agora ele comanda – sem contar os comentários da não interferência humana no aquecimento global, que foi midiaticamente exposto nas eleições de 2016. Isso certamente coloca em dúvida as bases da decisão final do presidente estadunidense.
Ao longo da semana, o presidente Trump, por meio da rede social Twitter¹, pontuou que os EUA possuem um grande déficit comercial com a Alemanha, mesmo os alemães pagando menos do que deveriam à OTAN e que essa situação mudaria. Direciona, assim, a crítica já feita aos países da aliança militar aos alemães, além de alertar sobre um posicionamento já mencionado por Trump sobre reformas orçamentais do organismo internacional.
Com base nas cimeiras da cúpula do G7 e da OTAN, conforme Merkel, ela considera que a Europa não pode confiar totalmente nos aliados e que os europeus deveriam segurar as rédeas do próprio destino. Em alusão ao posicionamento dos EUA e ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia, Merkel claramente se volta para os franceses com esse discurso, haja vista a recente eleição do candidato que Berlim apoiava, Macron. A instabilidade que o bloco está sofrendo com o Brexit, e com as medidas isolacionistas esperadas dos EUA, urge pela necessidade de uma coesão no bloco europeu para com a instabilidade política, além de pressionar o presidente francês a agir diante dessa situação em apoio a uma política mais alemã no bloco – se isso é mais possível.
O estranhamento da Alemanha com os EUA não é de hoje, até mesmo sobre o governo Obama, os alemães entravam em desacordo no que tange a guerra síria. Entretanto os choques são mais visíveis sob a administração Trump, que no início do ano se recusou o aperto de mãos com a chefe do governo alemão, em uma visita oficial que Merkel havia feito aos Estado Unidos em março.
Essas declarações estão a espreita de mais comentários polêmicos, do lado alemão, o concorrente de Merkel nas próximas eleições, Martin Schulz dispara que o presidente Trump faz chantagem política e é um desestabilizador da cooperação internacional pacífica, além de um destruidor de valores ocidentais. Com cunho mais apaziguador, o ministro dos Negócios Estrangeiros comentou que é um período ruim para as relações entre os dois países, mas que a aliança histórica é muito maior que certo descompasso na política.²
As eleições favoráveis na França deram mais estabilidade à situação na qual a União Europeia se encontra, mas há muitas questões que podem definir os novos caminhos do bloco, seja pelo Brexit, seja pelo afastamento político estadunidense do aliado mais forte do bloco, que é a Alemanha.
O objetivo desse texto foi trazer para a discussão a recente reunião da cúpula do G7, sem deixar de lado os desdobramentos e perspectivas que dela surgiram.
¹ Disponivel em- https://twitter.com/realDonaldTrump/status/869503804307275776
² Disponível em -http://www.spiegel.de/wirtschaft/soziales/donald-trump-greift-deutsche-handelspolitik-an-a-1149891.html
Marcello Padilha, graduando em Relações Internacionais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeir.

Diálogos Internacionais

Divulgação científica de Relações Internacionais, Defesa e Economia Política Internacional ISSN 2596 2353