Israel e Colômbia: dois pontos de uma mesma reta estadunidense

 Por Bernardo Salgado Rodrigues
Historicamente, a política estadunidense possui uma gênese, em qualquer espaço geográfico: a submissão de políticas nacionais em detrimento de seus interesses globais, seja pela coerção e/ou pelo consentimento. A partir de pontos estratégicos, seja em terra, mar ou espaço, os Estados Unidos construíram a maior força militar jamais vista na história, contando com bases militares em todos os continentes do mundo[1][2], com seus Unified Combatant Commands[3], 4,35% do PIB no setor (2012)[4] e correspondendo a aproximadamente 34% do PIB global em gastos militares (2014)[5]. Como estratégia global, a análise da presença expressiva do imperialismo estadunidense tomando como exemplos a Colômbia e Israel apresenta papéis geoestratégicos convergentes em ambos países no que se refere à política externa dos Estados Unidos no século XXI.
A partir de um exame geopolítico e dialético, os países que aparentemente não possuem nenhuma relação entre si passam a ser visualizados como dois pontos de uma mesma estratégia. Em termos geográficos, Israel é o ponto eqüidistante entre Paris e Pequim, cujo controle dos EUA impede a criação de um projeto de Eurásia, que seria altamente preocupante para seus interesses globais. Implicações geopolíticas históricas clássicas (seja através das análises de Mackinder, Mahan e Spykman) e atuais (Mello, Moniz Bandeira e Fiori) podem ser explicadas a partir dessa chave interpretativa a fim de qualificar o papel vital de Israel na região do Oriente Médio para os interesses estadunidenses. Da mesma forma a Colômbia, consistindo no ponto eqüidistante dos EUA até a Terra do Fogo, sendo um país geoestratégico para a dominação hegemônica estadunidense na América, uma vez que desse país sul-americano se pode deslocar para qualquer ponto da região, consistindo num “heartland americano”, parafraseando Mario Travassos.

Concomitantemente, ratifica-se a análise de política externa estadunidense comparada entre esses países tão distantes, mas tão geoestrategicamente similares, principalmente no discurso ideológico e geopolítico:

1) Israel consiste no principal aliado da luta contra o terrorismo islâmico no Oriente Médio; na Colômbia, intensifica-se a luta de décadas contra o narcotráfico. Ambos possuem como ponto fundamental a guerra contra um inimigo da potência global.

2) Israel possui o controle estratégico sobre as Colinas de Golã e o rio Jordão; Colômbia é um ponto fundamental de acesso para o Aquífero Amazonas, a maior reserva de água do mundo. Ambos países são fundamentais para o abastecimento de água de suas regiões de um recurso natural que será um dos mais importantes no século XXI.

3) Israel é um ponto de conexão entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, através do Golfo de Aqaba, cuja importância é histórica e presente; a Colômbia possui o ponto de conexão entre o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico, único país sul-americano que possui duas frentes oceânicas. Consistem em dois pontos estratégicos a nível continental e intercontinental.

4) Israel é considerada por alguns estudiosos como a cabeça-de-ponte[6] estadunidense no Oriente Médio, Ásia e Europa; a Colômbia tem a mesma especificidade na América Central, América do Sul e Antártica.

5) Israel é um país entrave, que impede um projeto integracionista mais amplo no Oriente Médio vinculado ao islamismo (como nos movimentos Pan-Arábicos e no próprio nasserismo); a Colômbia é uma parte importante de um conjunto de países da América do Sul que impede a criação de um projeto de integração sul-americano mais autônomo e soberano (como a própria ampliação do Mercosul).

Como um tabuleiro de xadrez global, os Estados Unidos posiciona seus peões nacionais com a finalidade de realizar um xeque-mate global, no qual tanto Israel como Colômbia possuem um papel vital, sendo mais que meros peões, e sim rainhas em seus respectivos continentes. Entretanto, através da análise de longa duração do sistema interestatal, o projeto de poder global estadunidense, seja através de vínculos com outros países ou mera imposição de seus interesses nacionais e internacionais, é um concepção inviável, uma vez que nas relações internacionais sempre haverá a constante competição entre os Estados nacionais, que buscam ascender e melhorar sua posição internacional num ambiente hierárquico, expansivo, anárquico e conflitivo: é um jogo de xadrez sem fim.

[1] http://www.politico.com/magazine/story/2015/06/us-military-bases-around-the-world-119321
[2] http://militarybases.com/
[3] http://www.defense.gov/home/features/2009/0109_unifiedcommand
[4] https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/us.html
[5] https://www.sipri.org/
[6] É uma fotificação temporária feita em território inimigo, no lado oposto ao de um obstáculo rio,desfiladeiro,etc.) e usa- da como ponto de partida e apoio para o avanço das tropas.

Diálogos Internacionais

Divulgação científica de Relações Internacionais, Defesa e Economia Política Internacional ISSN 2596 2353