Diálogos Internacionais em 2015 – um peso na balança

Por Glauber Cardoso Carvalho
 
Vamos iniciar o ano de 2016 no Diálogos Internacionais com um levantamento dos temas e autores que publicamos em 2015. Acreditamos que vale a pena recordar esse profícuo debate no qual nos empenhamos, verificando também a evolução dos acontecimentos nacionais e internacionais. 

Salientamos que em 2015 retiramos o caráter pessoal que era a tônica da nossa iniciativa e passamos a coordenar, Larissa Rosevics e eu, as submissões e postagens. Para 2016 esperamos poder transformá-lo mais uma vez, mas deixaremos as surpresas deste ano para o ano…
 
Bom… tivemos ao todo 43 posts em 2015:
 
Larissa Rosevics manteve-se de forma regular no campo das teorias das relações internacionais. Iniciou com a figura de Carr, abrindo nossa visão para outros livros menos lidos e tão relevantes quanto “Vinte anos de crise”. Na mesma linha, a coordenadora de Diálogos, escreveu ainda sobre a perspectiva tradicional do campo da “Segurança Internacional” para a América do Sul; em outro post analisou os atores e as agendas dessa temática; depois escreveu sobre os avanços e limitações da área de Defesa no Brasil. Relacionou o tema da guerra, paz e a questão dos refugiados nas Teorias do Imperialismo, com um franqueza analítica: “Quase cem anos após a publicação de um dos livros mais influentes sobre o assunto, o ‘Imperialismo: fase suprema do capitalismo’ escrito por Lenin em 1916, os europeus assistem, quase inertes, a entrada de milhares de imigrantes, em busca de refúgio dos conflitos nos limites da Europa e de um welfare state que, construído às custas de muitos desses povos, esfacela-se dia após dia.”
Sobre outros temas: Larissa verificou a participação das mulheres no Congresso Nacional brasileiro; a questão do ser oposição no Brasil; a atuação dos ministérios nacionais no Mercosul, como atores relevantes e prontos para atuarem em temas específicos que ultrapassam o saber global do Itamaraty. Escreveu ainda o artigo “Chernobyl, Bhopal e Mariana”, no contexto dos acontecimentos em Minas Gerais, explicando que “são exemplos de que os desastres ambientais não escolhem país, região, regime político, ou natureza ideológica, para acontecer. Os prejuízos causados pelos desastres são ambientais, econômicos e sociais, muitas vezes imensuráveis e irreversíveis. Tão grave quanto os próprios desastres é o despreparo dos governos em como agir.”
 
Contamos com um pot-pourri de Julia Monteath de França sobre Cuba, sobre os mercados financeiros e a situação da Grécia e a possibilidade do país sair da Zona do Euro, e da perspectiva da ACNUR de que a situação dos refugiados iria se complicar durante o ano. Em outros posts falou de três histórias de violência contida nos preconceitos coloniais que carregamos até hoje. Situando que acabamos com a colonização formal, mas ainda não nos desfizemos das amarras coloniais. Ainda são elas que orientam as nossas relações, desde as cotidianas até as internacionais. Escreveu depois sobre o livro: Dead Aid – Why Aid is Not Working and How There is a Better Way For Africa, de Dambisa Moyo. Escreveu também sobre mais um imbróglio no tema Palestina x Israel que em 2015 foi também no campo de futebol.
 
Suellen Lannes permaneceu focada no tema islâmico. Escreveu sobre um projeto de lei parado que prevê a inclusão de estudos da temática no currículo nacional. Explica, contudo, que “não se pode falar em cultura árabe e tradição islâmica sem levar em consideração o dilema entre a laicidade e a religião nas instituições brasileiras.” Em seguida, falou sobre as novas negociações em torno da questão nuclear iraniana; sobre uma série em canal aberto de televisão que presta desserviço para a questão árabe, desde o primeiro capítulo mostrando “a distinção entre o “bom” estadunidense e o “mau” árabe”; e ainda uma crítica ao livro “Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador”, do tunisiano Albert Memmi.
 
Confesso que eu, Glauber Cardoso Carvalho, não fui o mais profícuo neste ano não só turbulento para o Brasil e o Mundo, como repleto de atividades pessoais que tomaram mais tempo do que imaginei. Escrevi ironicamente sobre questões para redigir uma tese e depois sobre as acepções de “hipocrisia” e de “bengala” que o termo crise teve neste ano. Escrevi também sobre a dinâmica e necessidade de aprofundamento da integração regional e de fomento das redes de conhecimento e do processo de reconstrução plural e crítica da região sul-americana. Aproveitei alguns posts para divulgações como do livro do FoMerco “Os desafios da integração sul-americana: autonomia e desenvolvimento”, do qual fui um dos organizadores, e da Revista Pepianos, cujo nº 2 foi lançado no final do ano.
 
Escrevi ainda dois textos sobre personalidades, um sobre Luiz Alberto Moniz Bandeira e sua importante indicação para o “Oscar”, quero dizer, para o “Nobel de Literatura”, que poderia atualizar com a informação de que a vitoriosa foi a bielorrussa Svetlana Alexievich; e um sobre Helio Jaguaribe e as suas questões de relações internacionais e autonomia, e a sua dura constatação de que o problema do Brasil é a ignorância. A ignorância de 2/3 dos cidadãos brasileiros que forçadamente alheios do processo histórico-cultural reproduzem suas práticas políticas manejadas pelo 1/3 politicamente ativo.
 
Tivemos muitas participações de especialistas, aos quais desde já agradecemos a contribuição, o esforço e, claro, as ótimas análises realizadas.
 
Bernardo Salgado Rodrigues, nosso assíduo colaborador, teve uma ampla participação no ano que passou. Manteve-se na perspectiva crítica latino-americana, com muitos exemplos e dados atualizados sobre a região. Escreveu sobre geopolítica e soberania com relação às Malvinas; sobre o reordenamento geopolítico do petróleo e a necessidade de se perceber a inserção dos escândalos da Petrobras num contexto ampliado; sobre a importância da Venezuela para o Mercosul. Desmentiu as falácias sobre o porto de Mariel, asseverando que “O Porto de Mariel pode representar uma aproximação significativa entre os mercados do Brasil, da América do Sul e da América Central, reduzindo o custo de operações logísticas, ampliando as relações comerciais e a inserção brasileira no Caribe, historicamente pequena. Provavelmente, com a vinda de empresas brasileiras para se instalarem no Porto de Mariel, haverá uma maior presença comercial do Brasil, não só em Cuba, mas em toda a região.” Ainda no tema, falou sobre a inclusão da Bolívia no Mercosul e o “enorme potencial no processo de integração física regional, exercendo o papel de plataforma de interligação do comércio regional e bioceânico.”; sobre a importante questão da água na América do Sul; sobre a necessidade de rompimento das fronteiras epistemológicas e realização de uma descolonização da geopolítica regional; e, por fim, sobre a vitória da centro-direita nas eleições Argentinas e os processos de instabilidade da região.
 
Caroline Rangel Travassos Burity desenvolveu em seu texto “Mídia e Relações Internacionais: o conceito de Diplomacia Midiática” o surgimento, os autores e as ideias centrais dessa nova e importante temática que se coloca para os Estados.
 
Janaína Pinto escreveu o artigo “Do micro ao macro: o que esconde o apelo à liberdade de expressão?” no contexto dos acontecimentos ao Charlie Hebdo na França. Ela mostra acepções de uma expressão tão emblemática, que para além do espectro jurídico em voga, serve também para fins menos dignos.
 
Luiz Felipe Brandão Osório também falou sobre a questão grega no texto “Crise da Grécia é produto de modelo de integração que privilegiou o capital à sociedade”, concluindo que “a única certeza é de que a sociedade arcará com os elevados custos, que não se restringem à esfera contábil, mas que emperram por anos as vias do desenvolvimento socioeconômico.
 
Ricardo Zortéa Vieira contribuiu com uma análise sobre “O Poder Ocidental, o Fundamentalismo Religioso e as Raízes dos Ataques de Paris”, no qual explica o conturbado contexto geopolítico e ideológico do Oriente Médio e a ascensão do Estado Islâmico (ISIS), compreendendo que “apesar dos medos que se afloram após os atentados de Paris, o ISIS não é propriamente o despertar da “alma islâmica” submersa pela hegemonia do Ocidente e das crenças modernas, mas a expansão de uma ideologia fundamentalista religiosa que somente pode ter lugar devido a situação criada por um século de projeção do poder ocidental no Oriente Médio.”
 
Tiago Nasser Appel escreveu uma excelente resenha do livro “História, Estratégia e Desenvolvimento: para uma geopolítica do capitalismo”, de José Luís Fiori, publicada originalmente na Carta Maior. Explica Appel que Fiori teria desenvolvido “uma meta-narrativa própria para a interpretação da história”, assegurando que a teoria do Poder Global desenvolvida por Fiori é “uma das meta-narrativas de vanguarda da atualidade. Como todas as outras, ela também se baseia numa narrativa original que, aliás, ainda preenche a maior parte das páginas dos escritos do autor: o surgimento e desenvolvimento do sistema interestatal capitalista.”
 
Victor Carneiro Corrêa Vieira escreveu “O simbolismo da constituição do AIIB para o sistema internacional”, sobre a criação do banco asiático e uma acurada análise da economia política internacional com a percepção de que se assegura “um novo polo financeiro no mundo, tendo Beijing como centro e a Ásia como foco”.
 
Wesley S.T Guerra publicou “Portunhol: a ponte entre o Brasil e a América Latina”, no qual traça o crescimento dessa nova forma de linguagem. O autor é parte do NEMRI (Núcleo de Estudos Multidisciplinar em Relações Internacionais), que é composto por alunos e ex-alunos do curso de pós-graduação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP).
Esperamos que 2016 possa trazer (além das novidades que estamos preparando) novas análises tão relevantes e de temas importantes quanto até agora se produziu.
 
Se você tem vontade de publicar um artigo no Diálogos Internacionais, escreva para nós.

Diálogos Internacionais

Divulgação científica de Relações Internacionais, Defesa e Economia Política Internacional ISSN 2596 2353