ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Edição Especial: COP da Amazônia
Volume 12 | Número 121 | Nov. 2025
Por Ana Luiza Sabbatino
e Priscila Scheidegger
INTRODUÇÃO
De acordo com o site oficial das Nações Unidas, as mudanças climáticas são transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima. Ainda que essas mudanças possam ser naturais, visualiza-se que as atividades humanas têm sido o principal impulsionador das mudanças climáticas, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás. Este processo gera emissões de gases de efeito estufa que agem como um grande cobertor em torno da Terra, retendo o calor do sol e aumentando as temperaturas.
As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios contemporâneos, afetando ecossistemas, economias e sociedades em escala global. No contexto específico da Amazônia, o desmatamento de terras e florestas também pode liberar dióxido de carbono. Diante desse cenário, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no Pará, em 2025, surge como uma oportunidade histórica para o Brasil reafirmar seu protagonismo nas políticas de adaptação e mitigação climática.
O presente artigo tem como objetivo analisar os principais desafios e estratégias de adaptação às mudanças climáticas na Amazônia, destacando as políticas públicas, iniciativas regionais e as perspectivas de avanço no contexto da COP30.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O CONCEITO DE ADAPTAÇÃO
Como um dos maiores desafios da humanidade na contemporaneidade, as mudanças climáticas exigem respostas articuladas que envolvem tanto medidas de mitigação quanto de adaptação. A mitigação tem como propósito reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e, consequentemente, minimizar os impactos futuros sobre o sistema climático global. A adaptação busca ampliar a capacidade de resposta dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos já observados das alterações climáticas. (NOBRE; SAMPAIO, 2022).
No contexto da Amazônia, essas estratégias assumem papel fundamental. A região apresenta aumento progressivo das temperaturas médias, maior frequência de secas extremas e impactos diretos sobre a produção de alimentos e os modos de vida locais. Considerando que a floresta amazônica armazena cerca de 50 bilhões de toneladas de carbono florestal, sua preservação é essencial para a estabilidade climática planetária. (RODRIGUES, 2025: ONU, 2025).
A continuidade do desmatamento e da degradação florestal tende a comprometer o equilíbrio climático regional e global, além de afetar diretamente a qualidade de vida das aproximadamente 25 milhões de pessoas que habitam a região no Brasil. Dessa forma, políticas públicas que integrem mitigação, adaptação e conservação ambiental são indispensáveis para garantir a resiliência socioambiental da Amazônia frente às mudanças climáticas. (ALMEIDA; MAY, 2016).
POLÍTICAS PÚBLICAS E INICIATIVAS DE ADAPTAÇÃO NA AMAZÔNIA
As políticas públicas para adaptação climática envolvem um conjunto de ações para lidar com os impactos das mudanças do clima. Dentre os principais exemplos, é possível citar o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA) e os programas do Fundo Amazônia. Estes incentivam práticas sustentáveis que protegem a floresta e fortalecem a resiliência das comunidades locais. Entre essas iniciativas destacam-se agroflorestas, manejo florestal comunitário, energias renováveis e pagamento por serviços ambientais, permitindo o desenvolvimento econômico sem prejudicar o ecossistema. Ao juntar mitigação e adaptação, a economia verde reduz a vulnerabilidade climática da região e promove oportunidades de desenvolvimento socioambiental sustentável. (MENEZES; BATISTA, 2025).
Na Amazônia, as estratégias de adaptação às mudanças climáticas têm se alinhado progressivamente à economia verde, que combina preservação ambiental, desenvolvimento econômico e inclusão social. Nesse contexto, a sustentabilidade se apresenta como uma oportunidade estratégica para os setores-chave do Brasil. (ALMEIDA; MAY, 2016). Observa-se, por exemplo, que quase metade da matriz energética nacional é considerada limpa: cerca de 10% da energia elétrica é proveniente de parques eólicos no Nordeste, e o país ocupa a 13ª posição mundial na produção de energia solar. Além disso, o Brasil vem se destacando em novas modalidades da transição energética verde, como projetos de hidrogênio verde e lítio verde, que oferecem vantagens competitivas importantes nos esforços de descarbonização do país. (RODRIGUES, 2025: MENEZES; BATISTA, 2025).
DESAFIOS E PERSPECTIVAS RUMO À COP30
A realização da COP30 em Belém do Pará, em 2025, coloca a Amazônia novamente no centro dos debates sobre sustentabilidade global. A cidade, marcada por desigualdade urbana e vulnerabilidade ambiental, representa tanto os desafios da região quanto às possibilidades de implementar estratégias sustentáveis. A visibilidade internacional exige repensar o modelo de desenvolvimento de Belém, alinhando-o à transição ecológica e à valorização dos saberes amazônicos. (ONU, 2025).
No contexto brasileiro, Diniz, Diniz e Rivas (2016) destacam fragilidades estruturais e institucionais que comprometem a efetividade das políticas ambientais. Entre essas fragilidades, incluem-se a governança ambiental enfraquecida, retrocessos legais, baixa capacidade de fiscalização, investimentos industriais concentrados em setores poluentes e falta de adesão a certificações ambientais, dificultando o acompanhamento de avanços no campo da sustentabilidade (ALMEIDA; MAY, 2016).
Seguindo este pensamento, Acemoglu e Robinson (2012) reforçam a importância das instituições, enfatizando que modelos inclusivos favorecem o crescimento sustentável, enquanto instituições extrativistas podem perpetuar desigualdades e limitar o progresso. Para que a economia verde e a adaptação climática na Amazônia avancem, é necessário um engajamento social sólido e ampla mobilização política, de modo que as políticas implementadas representem efetivamente o interesse público. (RODRIGUES, 2025).
Dessa forma, a COP30 representa uma oportunidade estratégica para o Brasil reafirmar compromissos com o desenvolvimento sustentável e a economia verde, mas seu sucesso dependerá da capacidade do país de fortalecer instituições, consolidar a governança ambiental e mobilizar a sociedade em prol de políticas climáticas efetivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo evidencia que o debate sobre as mudanças climáticas na Amazônia e o sucesso dessas políticas depende da integração entre mitigação, economia verde e fortalecimento institucional. A região enfrenta desafios significativos, como o aumento de eventos climáticos extremos, fragilidades institucionais e desigualdades socioeconômicas, que demandam respostas articuladas e sustentáveis. Nesse contexto, a economia verde se apresenta como uma ferramenta estratégica.
A realização da COP30 em Belém coloca a Amazônia no foco do debate internacional, oferecendo uma oportunidade histórica para o Brasil reafirmar seu protagonismo em políticas climáticas e de adaptação. No entanto, o avanço efetivo depende de instituições inclusivas, engajamento social e mobilização política, que garantam a implementação de ações concretas e de longo prazo. Assim, a adaptação climática na Amazônia não é apenas uma questão ambiental, mas um imperativo estratégico para o desenvolvimento sustentável, a preservação da biodiversidade e a segurança socioeconômica da região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACEMOGLU, Daron; ROBINSON, James A. Why nations fail: the origins of power, prosperity, and poverty. New York: Crown Business, 2012.
ALMEIDA, Maria Cristina Tiná Soares de; MAY, Peter H. (Orgs.). Gestão e governança local para a Amazônia sustentável: notas técnicas. Rio de Janeiro: IBAM, 2016. 228 p. ISBN 978-85-7403-56-2.
DINIZ, Marcelo Bentes; DINIZ, Márcia Jucá Teixeira; RIVAS, Alexandre Almir Ferreira. Economia brasileira: transição para uma Economia Verde? Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 36, n. 4, p. 945-978, mar. 2016
MENEZES, Kesava Yasmim Silva de; BATISTA, Camily Vitória Sobrinho. Economia verde e instituições na Amazônia: o papel de Belém rumo à COP 30. Cadernos CEPEC, [S.l.], v. 14, n. 2, set. 2025. ISSN 2238-118X.
NOBRE, C. A.; SAMPAIO, G. Mudanças Climáticas e Amazônia: riscos e estratégias de adaptação. Revista Ciência Hoje, v. 373, 2022.
ONU. United Nations Climate Change Conference (COP30). Belém, 2025.
RODRIGUES, Bernardo Salgado. A economia política da Amazônia brasileira sob a perspectiva dos núcleos estratégicos nacionais. Revista Sociedade Brasileira de Economia Política, 72 – edição especial 2025.
Ana Luiza Sabbatino é estudante de Defesa e Gestão Estratégica Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com foco nas áreas de direitos humanos, meio ambiente e segurança internacional. Aprendiz na área de segurança do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro – RIOgaleão. Voluntária em um projeto socioambiental voltado para crianças da comunidade, o Conexão Escola, contribuindo para ações educativas e de conscientização ambiental.
Priscila Scheidegger é estudante de Defesa e Gestão Estratégica Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com interesse nas áreas de segurança internacional, estudos de futuro e política de defesa. Pesquisadora voluntária no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval, na linha de pesquisa “Arranjos Metodológicos”
Orientação da pesquisa: Prof. Dr. Bernardo Salgado Rodrigues
