Geopolítica da Península Coreana

Por Larissa Rosevics


A tensão entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte está cada vez maior. Após realização de supostos testes nucleares, no início de abril, Washington deslocou para a península coreana o grupo naval de ataque, comandado pelo porta-aviões Carl Vinson. 
A verdade é que há décadas os lideres norte coreanos vêm provocando os líderes norte-americanos. Basta lembrar que em 2012, o governo de Pyongyang concordou em suspender o seu projeto nuclear, tanto de enriquecimento de urânio como de teste de misseis, em troca de 240 mil toneladas de alimentos enviados pelo governo de Obama (Estadão, 2012). O líder norte-coreano sabe a importância geopolítica que seu país tem no jogo de poder mundial, e usa isso para angariar posições e benefícios. A diferença é que agora, com Donald Trump, parece que Kim Jon-un tem um interlocutor tão imprevisível quanto ele mesmo. 
O modelo realista de Mearsheimer (2001) destaca que a estrutura anárquica do sistema internacional faz com que os Estados busquem maximizar o seu poder, em prol de segurança. A máxima segurança só pode ser alcançada por aquele Estado que conseguir uma projeção de poder concreto, com a ocupação dos territórios exteriores com tropas. Desta maneira este Estado se tornaria um hegemon global, ou seja, o Estado mais poderoso de todo o sistema.
A República Popular Democrática da Coreia, comumente conhecida como Coreia do Norte, ocupa o território ao norte da península da Coreia e faz fronteira com a China e com a Rússia. Desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953, a porção ao sul da península segue o modelo pró-mercado de Washington, com tropas norte-americanas no seu território como garantia de independência, e a porção ao norte segue o modelo dito socialista, com apoio da China. 
Uma investida militar contra a Coreia do Norte pode significar o avanço das tropas americanas que já estão no território coreano, em direção as fronteira da China e da Rússia. Segundo o site Insider, no Japão são 50 mil soldados norte americanos baseados e “mais de 28.000 soldados norte-americanos em 85 bases na Coreia do Sul – desde 1957” (Insider, 2015).
Dentro da lógica do pensamento de Mearsheimer (2001), o poder parador das águas e os altos custos de um governo mundial inviabilizam que uma grande potência torne-se um hegemon global. A alternativa mais plausível é que as grandes potências busquem tornarem-se hegemon regionais. Dentre as grandes potências contemporâneas, apenas os Estados Unidos atingiram o status de hegemon regional na América, inclusive sendo o único Estado da região com armas atômicas. Ainda segundo Mearsheimer (2001), na impossibilidade de se tornar um hegemon global, o hegemon regional buscará evitar que outros hegemon regionais surjam. A Ásia é uma região com dois grandes candidatos a hegemon regional: China e Rússia. Ambos os países são potências nucleares, com forças terrestres significativas e economias relevantes em escala mundial. 

Embora as relações futuras entre a Coreia do Norte e a do Sul sejam difíceis de prever, ambos os lados continuam em posição de travar uma guerra prolongada ao longo da fronteira que as separa, que continua a ser a faixa de território mais fortemente armada do mundo. Não há, além disso, praticamente qualquer indício – pelo menos até este ponto – de que a Coreia do Norte tencione renunciar à sua independência e tornar-se parte de uma Coreia unificada. Mas, mesmo que a reunificação aconteça, não há motivo para pensar que venha aumentar a estabilidade no Nordeste Asiático, já que provavelmente gerará pressão para a retirada das tropas americanas da Coreia e reavivará igualmente a competição entre a China, o Japão e a Rússia pela influência da Coreia. (Mearsheimer, 2001, p.349)
E assim, torna-se clara a afirmação do Ministro das Relações Exteriores chinês que afirmou não haver vencedores em conflito entre Estados Unidos e Coreia do Norte. (Época Negócios, 2017).
As Relações Internacionais não são uma ciência exata, portanto não é possível dizer categoricamente se haverá um conflito armado entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos. Porém, dada a conjuntura geopolítica, é pouco provável que isso aconteça, pelo menos nos próximos tempos. E se acontecer, será um conflito como nunca antes visto na história da humanidade.
Referências:
ESTADÃO. Coreia do Norte aceita suspender programa nuclear em troca de comida. 01/mar./2012. Disponível em: http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,coreia-do-norte-aceita-suspender-programa-nuclear-em-troca-de-comida-imp-,842354
ÉPOCA NEGÓCIOS. Não haveria vencedores em conflito entre EUA e Coreia do Norte, diz China. 14/abr./2017. Disponível em http://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2017/04/epoca-negocios-nao-haveria-vencedores-em-conflito-entre-eua-e-coreia-do-norte-diz-china.html
INSIDER. A presença militar dos EUA no mundo. Disponível em: https://pt.insider.pro/economics/2015-04-09/a-presenca-militar-dos-eua-no-mundo/

MEARSHEIMER, John. A tragédia da política das grandes potências. Lisboa: Gradiva, 2001.

 

Diálogos Internacionais

Divulgação científica de Relações Internacionais, Defesa e Economia Política Internacional ISSN 2596 2353