Edição Especial Diálogos Internacionais: Por que a Índia?
Edição Especial: Ásia
Volume 11 | Número 113 | Nov. 2024
Por Marianna Albuquerque[1]
Em 2023, os noticiários internacionais foram inundados por diversas reportagens sobre a Índia, um país até então pouco protagonista nos principais veículos de comunicação. Em abril, o tema da inclusão nas manchetes foi o anúncio de que o país havia atingido 1,428 bilhão de habitantes e ultrapassado a China em dados demográficos. Tornava-se, portanto, a nação mais populosa do planeta. Já em agosto, novamente, os feitos indianos tornaram-se um tema inescapável. Após a bem-sucedida missão Chandrayaan-3, a Índia se tornou o primeiro país a realizar um pouso no polo sul da Lua. Antes disso, aterrisagens em outras partes do corpo celeste só haviam sido conquistadas por Estados Unidos, Rússia e China.
Em paralelo, o país conduzia dois grandes processos políticos simultaneamente: a presidência do G20, grupo multilateral que reúne as grandes economias do planeta, e a organização de eleições nacionais na maior democracia do mundo. Ambos foram marcados pelo papel central – e centralizador – do Primeiro-Ministro Narendra Modi. No G20, Modi e seu grupo político defenderam a narrativa de que a Índia era uma liderança do Sul Global e que possuía tanto a legitimidade quanto a capacidade de liderar os países em desenvolvimento em prol da redução de assimetrias. Nas eleições, a vitória de Modi e de seu partido para um terceiro mandato sinalizou que, apesar de em progressiva redução, há apoio popular interno a um projeto político que defende o resgate do papel histórico da civilização hindu no mundo.
Há, portanto, narrativas e ações intencionais em marcha com o objetivo de transformar a Índia em uma grande potência. Alguns dados nos ajudam a dimensionar o impacto do crescimento indiano. De acordo com o Banco Mundial, a Índia cresceu 8,2% no ano fiscal de 2023-2024, sendo a economia com o crescimento mais rápido do mundo[2]. O objetivo do país, que já é a quinta maior economia do mundo, é ser considerado ‘desenvolvido’ já na década de 1940. Para além de potência econômica, a Índia é, também, uma potência militar, tendo se nuclearizado em 1998.
Com o intuito de popularizar e difundir mais conteúdos sobre a política externa deste país em ascensão, foi fundada, em 2023, a linha de pesquisa sobre Política Externa da Índia, no âmbito do Laboratório de Estudos Asiáticos (LEA) do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID-UFRJ). Sob minha coordenação, os pesquisadores desenvolveram pesquisas sobre temas que variam de segurança à cultura, de poder normativo a desafios ao status quo. Essa edição da Diálogos Internacionais compila a produção dos pesquisadores, alunos de graduação dos cursos de Relações Internacionais e de Defesa e Gestão Estratégica Internacional. Esperamos que seja apenas um primeiro passo para a consolidação dos estudos indianos no Brasil.
NOTA DOS EDITORES: A edição especial da Diálogos Internacionais, com o dossiê “Por que a Índia?” é composta pela apresentação da professora Marianna Albuquerque e por 8 artigos relacionados ao tema. Os artigos serão publicados durante o mês de novembro de 2024, às segundas e quartas. Agradecemos a professora pela organização da Edição Especial e aos autores pelos debates promovidos.
[1] Professora do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID-UFRJ) e coordenadora da linha de pesquisa sobre Política Externa da Índia no Laboratório de Estudos Asiáticos (LEA-IRID). É Raisina Fellow do Observer Research Foundation (ORF), think tank sediado em Nova Délhi.
[2] Veja mais em: https://www.worldbank.org/en/country/india/overview