Edição Especial Diálogos Internacionais: COP da Amazônia
Edição Especial: COP da Amazônia
Volume 12 | Número 121 | Nov. 2025
Por Bernardo Salgado Rodrigues
Em vários comunicados à imprensa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem reiterando que a COP 30 será “a COP da Verdade”. Para ele, o encontro se constituirá como um ponto decisório para a principais lideranças do sistema internacional ratificarem “a seriedade de seu compromisso com o planeta”.
Mas afinal, o que é a COP30, e qual sua importância para o Brasil e para o mundo?
A COP30 é a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes), um encontro global anual onde líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil discutem ações para combater as mudanças do clima. Em termos de institucionalidade mundial, este é considerado um dos principais eventos do tema no âmbito internacional.
Neste ano, a COP30 ocorrerá de 10 a 21 de novembro de 2025 na cidade de Belém, no estado do Pará, Brasil. Esta será a primeira vez que uma COP será realizada no território nacional, localizada no coração da maior floresta tropical do mundo. Denominado de “COP da Amazônia”, o evento se apresenta como uma oportunidade para que o Brasil exerça a liderança nas decisões necessárias para implementar os compromissos assumidos pelos países no combate às mudanças climáticas.
Haja vista a importância do evento e do tema, essa edição especial da Revista Diálogos Internacionais é fruto dos trabalhos finais enviados por discentes da disciplina “Geopolítica da Amazônia”, ministrada no Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no curso de graduação em Defesa e Gestão Estratégica Internacional (DGEI) no segundo semestre de 2025.
Esta disciplina tem como objetivo introduzir a discussão sobre os temas estratégicos atualmente mais relevantes na conjuntura geopolítica da Amazônia Brasileira e Sul-Americana. Ela visa apresentar os principais conceitos, temas e debates na Geopolítica da Amazônia, assim como oferecer as linhas gerais para uma leitura mais aprofundada no âmbito do sistema interestatal.
Uma vez que a Amazônia se apresenta como uma das últimas fronteiras de expansão do capitalismo mundial, percebida como uma área geopoliticamente estratégica e crescente espaço vital, sua compreensão contemporânea é fundamental para o debate acadêmico. Em outros termos, a disciplina “Geopolítica da Amazônia” busca delinear uma narrativa histórica desde a colonização até os dias atuais, analisando a correlação entre a disputa internacional e a elevação da importância dos recursos estratégicos para a economia global, com fortes indícios de que a região pode vir a se tornar um novo núcleo gravitacional das grandes potências.
A partir do estudo da Economia Política Internacional e de uma abordagem qualitativa, com base em análise bibliográfica, objetiva-se demonstrar a crescente presença das potências estrangeiras, e como essa expansão é diretamente proporcional a carência de um projeto autônomo de defesa e segurança. Logo, uma vez que a produção científica tem como objetivo interpretar a realidade e provocar transformações na sociedade, a disciplina tem o papel de discutir os impactos diretos e indiretos na Amazônia Brasileira e Sul-Americana, vis-à-vis os projetos de poder na arena internacional, revestindo-se de importância para o meio acadêmico.
A conscientização intelectual e o fomento de recursos para pesquisa científica são elementos fundamentais para viabilizar econômica e politicamente as potencialidades amazônicas no século XXI. Neste sentido, esta edição especial se encontra dividida em seis análises acadêmicas de estudantes de graduação, voltados para os principais temas a serem discutidos na COP 30:
1. Redução de emissões de gases de efeito estufa.
2. Adaptação às mudanças climáticas.
3. Financiamento climático para países em desenvolvimento.
4. Tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono.
5. Preservação de florestas e biodiversidade.
6. Justiça climática e os impactos sociais das mudanças climáticas.
Tal qual dito pelo presidente Lula, o Brasil chega à COP 30 como exemplo de liderança na transição energética. Em outros termos, o Brasil possui as condições necessárias para ser um dos grandes players na nova economia verde, principalmente no que se refere aos biocombustíveis de segunda geração, ao hidrogênio verde, ao lítio verde, e às energias alternativas.
Uma vez que a sustentabilidade é apresentada como um modelo que resulta em progresso do bem-estar da população, igualdade social e redução dos riscos ambientais e da degradação ecológica, a Amazônia brasileira se apresenta como um dos principais sustentáculos verdes do Brasil. Obviamente, tal projeto deve ser uma contraposição ao desmatamento ocasionado pela agricultura, pecuária, mineração e exploração madeireira predatórias. Ou seja, é compreender que o risco climático é um risco econômico.
Em outros termos, é uma impossibilidade a utilização do espaço amazônico de forma racional sem a exploração harmoniosa e que atribua valor econômico à floresta, instituindo uma via de desenvolvimento baseado em Ciência, Tecnologia e Inovação, compreendendo sua complexidade metabólica e utilizando o seu patrimônio natural sem destruí-lo. Logo, se faz necessário um conhecimento adequado e profundo do seu valor intrínseco, uma conscientização dos agentes públicos e da população para os problemas ecológicos envolvidos, um uso sustentável dos recursos naturais estratégicos, uma intensificação de respaldos técnicos e científicos possibilitados pelo crescimento de pesquisadores na e da Amazônia.
Em síntese, a COP30 representa uma oportunidade histórica para o Brasil reafirmar seu papel de liderança global sobre mudanças climáticas e sustentabilidade. O principal objetivo é contribuir para que o país tenha protagonismo na fronteira tecnológica verde e na promoção da descarbonização dos processos produtivos. Fundamentalmente, é compreender as potencialidades da vanguarda de uma “Moderna Economia da Biodiversidade” para a reflexão de um “Brasil Potência Verde”.
Bernardo Salgado Rodrigues é professor adjunto do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID/UFRJ), pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Segurança Internacional e Defesa (PPGSID/ESG), no âmbito do ProCad Defesa Prospectiva; pesquisador do Laboratório de Estudos de Hegemonia e Contra-hegemonia (LEHC-UFRJ), do Grupo de Trabalho “China y el Mapa del Poder Mundial” do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO), do Grupo de Economia do Mar da Escola de Guerra Naval (GEM-EGN), no subgrupo de relações geopolíticas, e do Laboratório de Simulações e Cenários da Escola de Guerra Naval (LSC-EGN). Doutor em Economia Política Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PEPI/UFRJ), com pós-doutorado em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (PPGCM/ECEME) e em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (FAALC/UFMS). Mestre em Economia Política Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PEPI/UFRJ). Possui graduação em Ciências Econômicas pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE/UERJ). Possui graduação em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ). Foi professor visitante na graduação e na pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) entre 2022 e 2024, e foi professor substituto do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID/UFRJ) entre 2018 e 2020.
